segunda-feira, 3 de maio de 2010

Relato-desabafo...

"Às vezes eu temo que vou fracassar
Pois eu sei que errei e continuo a errar
Mas se a minha luz parece extinguir-se
Meu Deus me dá força pra prosseguir.

Não importa o quanto eu tente me esforçar
Eu só posso vencer se Ele me ajudar
E é quando percebo, meu esforço é vão
E o que devo fazer é segurar Sua mão"


(Brilhar por Ti - Leonardo Gonçalves)

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Acabei de voltar do enterro da minha esposa, pena que se foi tão jovem e deixou duas crianças lindas, mas, elas saberão a mãe maravilhosa que ela seria. Arrumando a mala que não chegou a ser desfeita, encontro um diário, tocar aquela capa que Anita sempre admirava antes de abrir, passava cada folha até encontrar uma em branco e derramar todo o seu sentimento sobre o dia que tinha passado. Não aguentei aquela emoção me consumindo, delicadamente o repeli, era duro demais saber que agora eu estava autorizado a ler, desde o nosso namoro sempre foi meu desejo ler os pensamentos daquela mulher, mas, agora eu daria t-u-d-o para tê-la de volta, para sentir a sua pele num abraço, mas, infelizmente, só me restou aquele velho diário.
Quando caiu no chão, uma folha abriu em especial, não resisti, resolvi ler e qual não foi minha surpresa ao ler:

"Estou com medo, estou com medo de verdade, depois de tanto tempo, não poderia imaginar que esse medo voltaria tão forte, tão palpável, capaz de me emudecer e me deixar inerte, as brincadeiras não tem a mesma graça e só de pensar, já mudo de humor. Como um homem consegue mudar todo o rumo de uma história? Agradeço-o por ter me deixaod madura, se naquele dia ele encontrou uma menina, onze dias depois, ele esnobou uma mulher e não foi só, pelo sentido que minha mãe daria. Depois de tudo, como imaginar que ele me faria tão mal? Se eu pudesse prever o futuro, simplesmente, não acreditaria. A minha desinformação foi a grande vilã da história, claro, o verdadeiro vilão, eu nunca poderia culpar completamente, é maior do que eu essa vontade de sempre inocentá-lo, mesmo sabendo que foi tudo premeditado, mesmo sabendo que eu fui, apenas, um objeto de desejo, aquele brinquedinho que depois de enjoar, jogamos fora... Eu posso até ter sido isso para ele, mas, para mim, mesmo que ninguém entenda, ele foi meu amigo, meu psicólogo, meu diário, minha esperança, meu amor, meu amante e não falo amante no sentido de um relacionamento paralelo, nesse caso, infelizmente, eu que me coloco nessa categoria. Ninguém é capaz de compreender tudo o que eu senti, nem eu. Sempre procurei ser tão correta e ao descobrir algo tão sujo, tão nojento, me deixei levar, era como uma droga e eu estava viciada. Como entender uma garota que afirma amar uma pessoa e ao descobrir que esse garoto terminou o namoro oficial e por isso está sofrendo, preferi que ele reatasse à assumir um relacionamento com ela? Que amor próprio é esse? Como uma pessoa dessa quer ser respeitada? Eu sei que não me respeitaria, se fosse outra pessoa, mas, não dá pra explicar, é complexo demais, a minha e a sua mente entrarão em curto. Quase três anos se passaram, aquele sentimento desapareceu, apesar de não conseguir me relacionar com mais ninguém, não dá pra ver graça em outra pessoa, se você tem medo de se magoar novamente, simplesmente é incocebível, me imaginar entregue ao amor de outro homem e agora mais essa. Passei todo esse tempo, fugindo do diagnóstico, a gravidez foi rápido, um teste de farmácia resolveu rapidamente a questão, mas, naquela época, simplismente, ignorei o conselho assustado de uma amiga e não fiz qualquer teste para dst. Fui me acostumando as blusas de manga, aos poucos os decotes e alças sumiram do guarda-roupa, apesar daquele modelito usado naquele dia fatídico, ainda, estar lá, mesmo que eu não use, não posso me desfazer, é como se uma parte da minha vida, uma parte triste e maravilhosa ao mesmo tempo estivesse intrinseco nele, como se caso outra pessoa use, ela desvendará tudo, como se ao me desfazer, estivesse se desfazendo de mim. É meio complexo, porém, é mais difícil ficar perto de um diagnóstico sombrio do que conviver com mazelas que ti machucam, que ti deprimem, que ti adoecem. Eu, realmente, aprendi a conviver com esses caroços, e não consigo, mas, me imaginar sem eles, é como um amigo inconviniente ou o espinho na carne de Paulo, a função deles era não me permitir esquecer o que eu fiz, o que eu senti e as pessoas que eu machuquei, que apesar de me "perdoarem", sabiam que esse perdão me faria me autojulgar todos os dias da minha vida. Mas, como tudo sempre vai pro lado mais fraco, minha mãe cansou. E eu até tinha esquecido daquela função e tinha resolvido me tratar, tava tudo indo tão bem, porque mecher em time que tá ganhando? Depois de remédios e exames que sempre davam um resultado diferente, chegou aquele pedido fatídico. Exame de sangue para verificar o virus daquela doença maldita. Eu sei, o médico me explicou que era só uma rotina, não queria dizer que ele me considerasse possuí-la, mas, sabendo do meu passado e de todos os meus pecados, conclui que eu seria um ótimo castigo para mim. E agora, estou paranóica com o diagnóstico de um exame que eu tento fugir de todas as formas, mas, eu sei que esse dia vai chegar e creio em Deus que não haverá o maldito resultado."

Chorei feito menino, ao ler esse relato, lembrei automaticamente dessa música que coloquei acima, sabia de quem Anita falava, foi antes de enxergá-la como mulher, antes só a via como amiga, foi um idiota que a fez sofrer drasticamente e sumiu no mundo, nunca consegui compreender o tamanho daquele sofrimento, pois, era impossível imaginar a imensidão daquele amor, amor que eu sei que não tive, esse amor foi reservado para ele, o amor que recebi foi transformado, era algo mais puro, mas maduro e mais forte, ele pode até ter sido o primeiro grande amor da vida dela, mas, eu, Ronaldo, fui o mais duradouro, fui o último e fui o único capaz de fazê-la superar tudo.
Por fim, o diagnóstico desse exame de sangue estava anexo à página e nele não havia nada de surpreendente, a minha amada nunca recebeu o resultado positivo e mesmo se tivesse, não me faria diferença, eu amava por ser ela quem era e não pelos vírus que carregava.




(by: Ronaldo)

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