sábado, 29 de maio de 2010

Uma cultura de covardia machista...


CARTA ABERTA sobre o julgamento do caso MARISTELA JUST (Fórum de Mulheres de Pernambuco)

Em abril de 1989, a estudante Maristela Just, então com 25 anos, foi assassinada pelo seu ex-marido José Ramos Lopes Neto, que também tentou matar os dois filhos, à época com idades de 2 a 4 anos e o ex-cunhado, que tentou impedir os disparos.
Naquele ano, o movimento de mulheres foi às ruas pedir sua condenação e, diante das circunstâncias do crime, assim como toda a sociedade pernambucana, esperávamos que José Ramos Lopes Neto, assassino confesso, fosse julgado e condenado. Mas não houve julgamento e muito menos condenação.
O Poder Judiciário libertou o acusado um ano após sua prisão em flagrante e tardou 21 anos para levar a julgamento o réu confesso José Ramos Lopes Neto, comerciante e filho do famoso advogado criminalista pernambucano Gil Teobaldo.
Passados todos esses anos, o sentimento de insegurança para as mulheres e de impunidade para criminosos continua sendo a tônica para esse e outros casos de violência contra a mulher.
Para que a justiça se realize e o crime não prescreva estamos em vigília pelo fim da impunidade durante todo o período do julgamento do caso Maristela Just.
Queremos justiça! Isenção no julgamento e a condenação de José Ramos Lopes Neto por assassinato de Maristela Just e pela tentativa de homicídio de seus filhos e cunhado!
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QUANTAS MARISTELAS TERÃO QUE MORRER PARA OS JOSÉS COMEÇAREM A SER PRESOS???????

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Natasha...

Natasha sentou na cama e se olhou no espelho. Não, aquilo que refletia não era ela. Em que momento aquela mulher havia a dominado? Quando deixou de ser Ana Paula para tornar-se aquela pessoa seca, solitária, amargurada? O que diriam seus pais se vissem aquele homem asqueroso ao seu lado? Quando ela errou o caminho? Em que rua ela virou pro lado contrário? Em que lugar se escondeu aquela garota inocente? Onde ela cruzou a fronteira da dignidade? Não lembrava o que a havia feito mudar toda a sua vida. Saiu de sua cidade para estudar e ser alguém na vida, largou a faculdade e mesmo assim tinha uma vida confortável, não era ninguém, já que mentia para seus pais, para eles era uma mulher respeitada, uma profissional liberal... Liberal... Realmente! Sua fama de faz tudo chegava aos confins da terra. Sempre teve medo de ser reconhecida e por isso marcava na internet e exigia uma foto verdadeira do dito cujo. Descobrira que tamanho não era documento, o bom mesmo era deitar na cama cinco vezes por noite e ficar em extase quando passava de dez. Ninguém nunca entendeu de onde ela era. Para cada homem, uma cidade diferente. Seus sonhos iam perdendo a cor a cada climax fingido. Quando suas roupas diminuiram tanto? Quando ficou tão vulgar? Em que lugar ficaram seus princípios?

domingo, 23 de maio de 2010

Amizade sem trato...

Dei pra me emocionar cada vez que falo dos amigos. Deve ser a idade, dizem que a gente fica mais sentimental. Mas é fato: quando penso no que tenho de mais valioso, os amigos aparecem em pé de igualdade com o resto da família. E quando ouço pessoas dizendo que amigo, mas amigo meeeesmo, a gente só tem dois ou três, empino o peito e fico até meio besta de tanto orgulho: eu tenho muito mais do que dois ou três. São uma cambada. Não é privilégio meu, qualquer pessoa poderia ter tantos assim, mas quem se dedica?Fulano é meu amigo, Sicrana é minha amiga. É nada. São conhecidos. Gente que cumprimentamos na rua, falamos rapidamente numa festa, de repente sabemos até de uma fofoca sobre eles, mas amigos? Nem perto. Alguns até chegaram a ser, mas não são mais por absoluta falta de cuidado de ambas as partes.Amizade não é só empatia, é cultivo. Exige tempo, disposição. E o mais importante: o carinho não precisa - nem deve - vir acompanhado de um motivo.As pessoas se falam basicamente nos aniversários, no Natal ou para pedir um favor - tem que haver alguma razão prática ou festiva para fazer contato. Pois para saber a diferença entre um amigo ocasional e um amigo de verdade, basta tirar a razão de cena. VOcê não precisa de uma razão. Basta sentir a falta da pessoa. E, estando juntos, tratarem-se bem.Difícil exemplificar o que é tratar bem. Se são amigos mesmo, não precisam nem falar, podem caminhar lado a lado em silêncio. Não é preciso trocar elogios constantes, podem até pegar no pé um do outro, delicadamente. Não é preciso manifestações constantes de carinho, podem dizer verdades duras, às vezes elas são necessárias. Mas há sempre algo sublime no ar entre dois amigos de verdade. Talvez respeito seja a palavra. Afeto, certamente. Cumplicidade? Mais do que cumplicidade. Sintonia?Acho que é amor. Só mesmo amando para você confiar a ele o seu próprio inferno. E para não invejarem as vitórias um do outro. Por amor, você empresta suas coisas, dá o seu tempo, é honesto nas suas respostas, cuida para não ofender, abraça causas que não são suas, entra numas roubadas, compreende alguns sumiços - mas liga quando o sumiço é exagerado. Tudo isso é amizade com trato. Se amigos assim entraram na sua vida, não deixe que sumam.Porém, a maioria das pessoas não só deixa como contribui para que os amigos evaporem. Ignora os mecanismos de manutenção. Acha que amizade é algo que vem pronto e que é da sua natureza ser constante, sem precisar que a gente dê uma mãozinha. E aí um dia abrimos a mãozinha e não conseguimos contar nos dedos nem dois amigos pra valer. E ainda argumentamos que a solidão é um sintoma destes dias de hoje, tão emergenciais, tão individualistas. Nada disso. A solidão é apenas um sintoma do nosso descaso.

(Martha Medeiros)

domingo, 16 de maio de 2010

Refúgio...





"Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração."
(Salmos 90:1)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ponte...

Se você não acreditar naquilo que você é capaz de fazer; quem vai acreditar?
Dizer que existe uma idade certa, tempo certo, local certo, não existe.
Somente quando você estiver convicto daquilo que deseja e esta convicção fizer parte integrante do processo.
Mas quando ocorre este momento? Imagine uma ponte sobre um rio.
Você está em uma margem e seu objetivo está na outra.
Você pensa, raciocina, acredita que a sua realização está lá.
Você atravessa a ponte, abraça o objetivo e não olha para traz.
Estoura a sua ponte.
Pode ser que tenha até dificuldades, mas se você realmente acredita que pode realizá-lo, não perca tempo: vá e faça.
Agora, se você simplesmente não quer ficar nesta margem e não tem um objetivo definido, no momento do estouro, você estará exatamente no meio da ponte.
Já viu alguém no meio de uma ponte na hora da explosão... eu também não.
Realmente não é simples.
Quando você visualizar o seu objetivo e criar a coragem suficiente em realizá-lo, tenha em mente que para a sua concretização, alguns detalhes deverão estar bem claros na cabeça ou seja, facilidades e dificuldades aparecerão, mas se realmente acredita que pode fazer, os incômodos desaparecerão.
É só não se desesperar.
Seja no mínimo um pouco paciente.
Pois é, as diferenças básicas entre os três momentos são:
ESTOURAR A PONTE ANTES DE ATRAVESSÁ-LA Você começou a sonhar... sonhar... sonhar! De repente, sentiu-se estimulado a querer ou gozar de algo melhor.
Entretanto, dentro de sua avaliação, começa a perceber que fatores que fogem ao seu controle, não permitem que suas habilidades e competências o realize.
Pergunto, vale a pena insistir?
Para ficar mais tangível, imaginemos que uma pessoa sonhe viver ou visitar a lua, mas as perspectivas do agora não o permitem, adianta ficar sonhando ou traçando este objetivo?
Para que você não fique no mundo da lua, meio maluquinho, estoure a sua ponte antes de atravessá-la, rompa com este objetivo e parta para outros sonhos! ESTOURAR A PONTE NO MOMENTO DE ATRAVESSÁ-LA Acredito que tenha ficado claro, mas cabe o reforço.
O fato de você desejar não ficar numa situação desagradável é válido, entretanto você não saber o que é mais agradável, já não o é! Ou seja, a falta de perspectiva nem explorada em pensamento, não leva a lugar algum. Você tem a obrigação consciencional de criar alternativas melhores.
Nos dias de hoje, não podemos nos dar ao luxo de sair sem destino.
O nosso futuro não é responsabilidade de outrem, nós é que construímos o nosso futuro. Sem desculpas, pode começar...
ESTOURAR A PONTE DEPOIS DE ATRAVESSÁ-LA.
No início comentei sobre as pessoas que realizaram o sucesso e outras que não tiveram a mesma sorte.
Em primeiro lugar, acredito que temos de definir o que é sucesso.
Sou pelas coisas simples, sucesso é gostar do que faz e fazer o que gosta.
Tentamos nos moldar em uma cultura de determinados valores, onde o sucesso é medido pela posse de coisas, mas é muito mesquinho você ter e não desfrutar daquilo que realmente deseja.
As pessoas que realizaram a oportunidade de estourar as suas pontes de modo adequado e consistente, não só imaginaram, atravessaram e encontraram os objetivos do outro lado.
Os objetivos a serem perseguidos, foram construídos dentro de uma visão clara do que se queria alcançar, em tempo suficiente, de modo adequado, através de fatores pessoais ou impessoais, facilitadores ou não, enfim o grau de comprometimento utilizado para a sua concretização.

A visão sem ação, não passa de um sonho.
A ação sem visão é só um passatempo.
A visão com ação pode mudar o mundo.

(Não desista nunca - Martha Medeiros)

segunda-feira, 10 de maio de 2010


Um dia, quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes:
– Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.
Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer vocês saberem que aquele novo amigo não era boa companhia.
- Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e os fazer dizer ao dono: "Nós pegamos isto ontem e queríamos pagar".
- Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto a vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
- Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
- Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade por suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes não, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em momentos até odiaram). Essas eram as mais difíceis batalhas de todas.
Estou contente, venci... Porque no final vocês venceram também!
E em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer:
"Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo..."
– As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos que comer cereais, ovos e torradas.
As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas.
E ela nos obrigava a jantar à mesa, bem diferente das outras mães que deixavam seus filhos comerem vendo televisão.
Ela insistia em saber onde estávamos a toda hora (tocava nosso celular de madrugada e "fuçava" nos nossos e-mails).
Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles.
Insistia que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violava as leis do trabalho infantil. Nós tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse tipo de trabalho, que achávamos cruéis.
Eu acho que ela nem dormia à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer.
Ela insistia sempre conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade.
E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos.
A nossa vida era mesmo chata. Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos, tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer.
Enquanto todos podiam voltar tarde à noite, com 12 anos, tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa (só para ver como estávamos ao voltar).
Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência: nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por qualquer crime.
FOI TUDO POR CAUSA DELA.
Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos "PAIS MAUS", como minha mãe foi.
EU ACHO QUE ESTE É UM DOS MALES DO MUNDO DE HOJE:
NÃO HÁ SUFICIENTES MÃES MÁS.

(Mães más - Dr. Carlos Hecktheuer)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Meu Universo...

Que sejas meu universo
Não quero dar-te só um pouco do meu tempo
Não quero dar-te um dia apenas da semana

Que sejas meu universo
Não quero dar-te as palavras como gotas
Quero que saia um dilúvio de bençãos da minha boca

Que sejas meu universo
Que sejas tudo o que sinto e o que penso
Que de manhã seja o primeiro pensamento
E a luz em minha janela

Que sejas meu universo
Que enchas cada um dos meus pensamentos
Que a tua presença e o teu poder sejam alimento
Jesus este é o meu desejo

Que sejas meu universo
Não quero dar-te só uma parte dos meus anos
Te quero dono do meu tempo e dos meus planos

Que sejas meu universo
Não quero a minha vontade
Quero agradar-te
E cada sonho que há em mim quero entregar-te!!!


(Meu Universo - PG)

Media in via...

Media in via erat lapis
erat lapis media in via
erat lapis
media in via erat lapis.

Non ero unquam immemor illius eventus
pervivi tam míhi in retinis defatigatis.
Non ero unquam immemor quod
media in via
erat lapis
erat lapis media in via
media in via erat lapis.

Media in via (Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Relato-desabafo...

"Às vezes eu temo que vou fracassar
Pois eu sei que errei e continuo a errar
Mas se a minha luz parece extinguir-se
Meu Deus me dá força pra prosseguir.

Não importa o quanto eu tente me esforçar
Eu só posso vencer se Ele me ajudar
E é quando percebo, meu esforço é vão
E o que devo fazer é segurar Sua mão"


(Brilhar por Ti - Leonardo Gonçalves)

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Acabei de voltar do enterro da minha esposa, pena que se foi tão jovem e deixou duas crianças lindas, mas, elas saberão a mãe maravilhosa que ela seria. Arrumando a mala que não chegou a ser desfeita, encontro um diário, tocar aquela capa que Anita sempre admirava antes de abrir, passava cada folha até encontrar uma em branco e derramar todo o seu sentimento sobre o dia que tinha passado. Não aguentei aquela emoção me consumindo, delicadamente o repeli, era duro demais saber que agora eu estava autorizado a ler, desde o nosso namoro sempre foi meu desejo ler os pensamentos daquela mulher, mas, agora eu daria t-u-d-o para tê-la de volta, para sentir a sua pele num abraço, mas, infelizmente, só me restou aquele velho diário.
Quando caiu no chão, uma folha abriu em especial, não resisti, resolvi ler e qual não foi minha surpresa ao ler:

"Estou com medo, estou com medo de verdade, depois de tanto tempo, não poderia imaginar que esse medo voltaria tão forte, tão palpável, capaz de me emudecer e me deixar inerte, as brincadeiras não tem a mesma graça e só de pensar, já mudo de humor. Como um homem consegue mudar todo o rumo de uma história? Agradeço-o por ter me deixaod madura, se naquele dia ele encontrou uma menina, onze dias depois, ele esnobou uma mulher e não foi só, pelo sentido que minha mãe daria. Depois de tudo, como imaginar que ele me faria tão mal? Se eu pudesse prever o futuro, simplesmente, não acreditaria. A minha desinformação foi a grande vilã da história, claro, o verdadeiro vilão, eu nunca poderia culpar completamente, é maior do que eu essa vontade de sempre inocentá-lo, mesmo sabendo que foi tudo premeditado, mesmo sabendo que eu fui, apenas, um objeto de desejo, aquele brinquedinho que depois de enjoar, jogamos fora... Eu posso até ter sido isso para ele, mas, para mim, mesmo que ninguém entenda, ele foi meu amigo, meu psicólogo, meu diário, minha esperança, meu amor, meu amante e não falo amante no sentido de um relacionamento paralelo, nesse caso, infelizmente, eu que me coloco nessa categoria. Ninguém é capaz de compreender tudo o que eu senti, nem eu. Sempre procurei ser tão correta e ao descobrir algo tão sujo, tão nojento, me deixei levar, era como uma droga e eu estava viciada. Como entender uma garota que afirma amar uma pessoa e ao descobrir que esse garoto terminou o namoro oficial e por isso está sofrendo, preferi que ele reatasse à assumir um relacionamento com ela? Que amor próprio é esse? Como uma pessoa dessa quer ser respeitada? Eu sei que não me respeitaria, se fosse outra pessoa, mas, não dá pra explicar, é complexo demais, a minha e a sua mente entrarão em curto. Quase três anos se passaram, aquele sentimento desapareceu, apesar de não conseguir me relacionar com mais ninguém, não dá pra ver graça em outra pessoa, se você tem medo de se magoar novamente, simplesmente é incocebível, me imaginar entregue ao amor de outro homem e agora mais essa. Passei todo esse tempo, fugindo do diagnóstico, a gravidez foi rápido, um teste de farmácia resolveu rapidamente a questão, mas, naquela época, simplismente, ignorei o conselho assustado de uma amiga e não fiz qualquer teste para dst. Fui me acostumando as blusas de manga, aos poucos os decotes e alças sumiram do guarda-roupa, apesar daquele modelito usado naquele dia fatídico, ainda, estar lá, mesmo que eu não use, não posso me desfazer, é como se uma parte da minha vida, uma parte triste e maravilhosa ao mesmo tempo estivesse intrinseco nele, como se caso outra pessoa use, ela desvendará tudo, como se ao me desfazer, estivesse se desfazendo de mim. É meio complexo, porém, é mais difícil ficar perto de um diagnóstico sombrio do que conviver com mazelas que ti machucam, que ti deprimem, que ti adoecem. Eu, realmente, aprendi a conviver com esses caroços, e não consigo, mas, me imaginar sem eles, é como um amigo inconviniente ou o espinho na carne de Paulo, a função deles era não me permitir esquecer o que eu fiz, o que eu senti e as pessoas que eu machuquei, que apesar de me "perdoarem", sabiam que esse perdão me faria me autojulgar todos os dias da minha vida. Mas, como tudo sempre vai pro lado mais fraco, minha mãe cansou. E eu até tinha esquecido daquela função e tinha resolvido me tratar, tava tudo indo tão bem, porque mecher em time que tá ganhando? Depois de remédios e exames que sempre davam um resultado diferente, chegou aquele pedido fatídico. Exame de sangue para verificar o virus daquela doença maldita. Eu sei, o médico me explicou que era só uma rotina, não queria dizer que ele me considerasse possuí-la, mas, sabendo do meu passado e de todos os meus pecados, conclui que eu seria um ótimo castigo para mim. E agora, estou paranóica com o diagnóstico de um exame que eu tento fugir de todas as formas, mas, eu sei que esse dia vai chegar e creio em Deus que não haverá o maldito resultado."

Chorei feito menino, ao ler esse relato, lembrei automaticamente dessa música que coloquei acima, sabia de quem Anita falava, foi antes de enxergá-la como mulher, antes só a via como amiga, foi um idiota que a fez sofrer drasticamente e sumiu no mundo, nunca consegui compreender o tamanho daquele sofrimento, pois, era impossível imaginar a imensidão daquele amor, amor que eu sei que não tive, esse amor foi reservado para ele, o amor que recebi foi transformado, era algo mais puro, mas maduro e mais forte, ele pode até ter sido o primeiro grande amor da vida dela, mas, eu, Ronaldo, fui o mais duradouro, fui o último e fui o único capaz de fazê-la superar tudo.
Por fim, o diagnóstico desse exame de sangue estava anexo à página e nele não havia nada de surpreendente, a minha amada nunca recebeu o resultado positivo e mesmo se tivesse, não me faria diferença, eu amava por ser ela quem era e não pelos vírus que carregava.




(by: Ronaldo)